O conjunto habitacional da Malagueira foi desenvolvido como uma comunidade suburbana na periferia de Évora, uma antiga cidade romana, situada a uns 160 km a leste de Lisboa. Está implantada numa área de 27 hectares, apresentando construções de dois pavimentos, e alta densidade, totalizando 1200 habitações, construídas num período de 20 anos aproximadamente.
A ideia era construir uma nova comunidade, que eventualmente seria propriedade dos residentes numa organização cooperativa. Não fazia parte do projeto a ideia de “habitação social”, já que a Malagueira não era pensada como uma instalação típica de habitações sociais subvencionadas.
No lugar, existiam dois bairros Santa Maria e Nossa Senhora da Glória, que cresceram ao longo de uma das vias radiais que saem da cidade, criando um eixo leste-oeste. Também passa um rio nos limites desses bairros, que juntos constituem os limites da nova construção.
O modelo para o desenho da Quinta da Malagueira foi a malha urbana pre-existente do bairro Santa Maria, possibilitando a criação de um padrão de novas ruas de pequenos fragmentos numa malha ortogonal. O projeto foi divido em vários grupos de habitações, implantados em diferentes ângulos, formando distintos bairros, cujos espaços intersticiais formam espaços públicos, utilizados para usos comunitários, lojas, estacionamento, recreação e a circulação de pedestres.
Um sistema de aquedutos de concreto conecta os grupos residenciais, e proporcionam a infraestrutura para água e distribuição elétrica. Os aquedutos eram uma caracterisitca da época romana e, depois, da época renascentista, e restos destes ainda são visíveis em Évora. Foram utilizados canais feitos com blocos de concreto apoiados em colunas que formam uma estrutura contínua, como uma galeria que conecta os bairros, fornecendo o serviço a cada casa. O aqueduto foi justificado pelo baixo custo e que, ao mesmo tempo, funciona como um elemento para o planejamento em grande escala, que conecta os bairros e forma áreas públicas definindo as entradas aos grupos de lojas e outras instalações públicas. Devido a sua construção a partir do segundo nível, deixou-se o concreto aparente, que proporciona um alivio visual diante da repetitiva e contínua parede branca das habitações.
As residências de Malagueira são do tipo Pátio ou Átrio, com uma planta em ‘L’ com dois grupos de recintos que dão a um pequeno pátio interior. Há dois tipos similares de habitações, ambos construídos em um terreno de 8×11 metros, um com pátio de entrada, e o outro com pátio de fundos. Ambos apresentam terraços no segundo nível e podem ser combinados de várias maneiras, resultando em diferentes jogos de cheios e vazios.
A dimensão vertical dos muros varia entre a altura da porta de entrada, a altura do segundo andar, uma parede de ventilação que é perpendicular à rua, e se estende à altura da laje do segundo andar. Esta gama de alturas, junto com a posição alternada dos pátios e terraços, resulta numa rica composição tridimensional. A construção segue a topografia existente, o que traz a cada casa uma identificação própria.
De longe, as casas parecem ser mais altas do que só dois níveis, ao intensificar os contornos se produz a impressão de uma organização mais densa, mais alta e mais aterraçada. O conjunto limitado das formas de portas e janelas varia também em altura com o objetivo de organizar e agrupar as paredes. As casas foram projetadas para permitir a construção de mais quartos, de acordo com as necessidades e possibilidades de cada família.
A precariedade do revestimento das casas associada à variedade de volumes e paredes da Quinta da Malagueira rompe a repetição restrita e típica dos conjuntos de habitação de baixo custo.